Arquivo de 30/11/2011

por Anna Gabriela Coelho

Casos de violência por razões homofóbicas vêm acontecendo em frequência assustadora pelo Brasil. Basta ler os jornais impressos ou virtuais ou assistir aos telejornais para comprovarmos que ainda vivemos em uma sociedade onde as opressões são presentes e aceitas. Raríssimas vezes vemos jornalistas relacionando a violência à homofobia, escrevendo reportagens tratando como fatos isolados, e não enquanto preconceito.

“De uma maneira a mídia contribui, sim, para a naturalização da opressão”, opinou Luis Farcetta, 26, estudante de psicologia da PUC-SP. “A mídia faz uma análise muito parcial do assunto, porque existe uma ideologia dominante por trás. É muito delicado retratar opressão, porque se faz a denúncia de que ela existe” continuou.

“A comunidade LGBT, por exemplo, sempre foi alvo de críticas e ataques ferozes de um setor significativo da sociedade brasileira, sustentados por preceitos e ideias bastante conservadores. Até hoje, muitas pessoas ficam bastante incomodadas ao presenciar ou conviver com homossexuais”, declarou Cesar Fernandes, psicólogo de Curitiba. “A mídia tem um papel fundamental nesse processo: muitas vezes se refere aos LGBT de forma pejorativa e estigmatizada, apresentando de forma leviana as pautas e lutas deste grupo social. Isso contribui para a criação de um senso comum de que a comunidade LGBT não merece respeito e que suas bandeiras de luta são “frescura”. A banalização da violência contra os homossexuais, promovida pela mídia burguesa, é apenas um reflexo da invisibilidade imposta aos LGBT pelo setor conservador da sociedade.”.

Muito se fala na falta de policiamento nas ruas, principalmente nas principais avenidas das cidades, ou preferem reduzir a homofobia a afirmações que colocam o próprio oprimido como culpado pela violência. Esse tipo de declaração é reproduzido para descrever não somente a opressão ao homossexual, mas também às mulheres e aos negros. Segundo Farcetta, a mídia paulistana só retrata os casos que acontecem nos focos da economia e do turismo, como as ruas Oscar Freire, nos Jardins, e Cardeal Arcoverde, em Pinheiros, frequentados principalmente pela classe média. “A violência se dá em vários lugares, mas a mídia não noticia, e são casos mais escandalosos que os que a maior parte da população conhece”, explicou o estudante, para quem, graças às políticas de higienização do centro de São Paulo, os policiais oprimem travestis e transexuais na região, contribuindo para a naturalização da opressão; aqueles que deveriam defender a sociedade atacam-na.

A situação em outros locais não deixa de ser semelhante à da capital paulista. “Segundos dados do Grupo Gay da Bahia, em 2009, o Paraná consagrou-se como o estado onde ataques homofóbicos são mais constantes (foram 25 homossexuais mortos no ano da pesquisa). É importante lembrar, também, que estes dados são os apresentados pelos veículos de comunicação, desconsiderando os muitos outros casos de homofobia que acontecem diariamente em Curitiba”, lembrou Fernandes, que também observou que a polícia paranaense não ajuda a própria população em casos como esse. “Os ataques na cidade são feitos por grupos organizados de skinheads que agridem e algumas vezes até matam dezenas de pessoas e contam com a conivência da polícia, que muitas vezes tenta impedir ou dificultar encaminhamentos simples (como registrar boletins de ocorrência) e processos investigativos.”

Outro assunto que vemos cada vez mais na mídia são as “igrejas inclusivas”, que acreditam que Deus não faz diferenciação das pessoas de acordo com a sexualidade. Farcetta menciona que as igrejas fundamentalistas procuram distorcer os textos bíblicos, e, a partir do momento que isso acontece, a Igreja assume papel de Estado. “Muitas Igrejas tem debatido o tema da homossexualidade em seus cultos, grupos de convivência e materiais. Acredito que isso decorra da necessidade de manter-se constantemente atualizadas e em sintonia com o que vem sendo debatido pelas instituições seculares (mídia, escola, etc), a que passem a sensação de que a religião pode dar conta da totalidade da vida das pessoas, ou seja, que é transversal aos seus trabalhos, estudos, relações afetivas, etc” mostra Fernandes.

Procurando questionar atitudes da sociedade em geral, coletivos se formam pelo país inteiro, atuando em diversos movimentos. Um exemplo disso é o coletivo paulista 28 de Junho, composto por lésbicas, gays e bissexuais, foi criado com o objetivo de combater toda forma de opressão da exploração do homem pelo homem, principalmente aquelas que dizem respeito a livre orientação sexual e identidade de gênero. O coletivo estuda desde análises marxistas até a teoria Queer, buscando se aprofundar no debate de opressões. Acreditando que a opressão seja uma forma de manutenção do capitalismo, o coletivo se coloca enquanto anticapitalista e atua nos movimentos estudantil, sindicais, popular e LGBT.